terça-feira, 17 de março de 2015

BATGIRL: QUESTÃO DE FEMINISMO OU UM ERRO DA DC?

Ninguém quer ser lembrado de um trauma, mesmo que você o supere, certo?


Em março de 1988 era publicada uma das mais célebres histórias do Coringa, não apenas dele, mas do Batman e outra personagem que foi mais que afetada, Batgirl. Com o desenho de Brian Bolland e com o roteiro de Allan Moore, a história não demorou para se tornar canônica.

Hoje, março de 2015, 27 anos depois, diversos leitores são lembrados dessa história, não apenas leitores, mas a própria heroína Batgirl, a famosa Barbs. Mas a mesma não foi lembrada de uma forma boa, mas como uma cutucada em uma ferida, pelo menos é o que algumas pessoas dizem.

No arco Piada Mortal, a personagem Barbara Gordon passou pelo o que milhões de mulheres passam todos os anos, ela foi abusada sexualmente pelo vilão Coringa, uma situação ligada por sua vez com a realidade, mas ainda visto como um assunto pesado para ser tocado no mundo das HQs.

Em junho, o vilão completa 75 anos e uma capa variante para cada HQ foi criada, inclusive para a de Barbs. O problema em si é que a arte estampada não mostra um confronto entre ambos, mas sim o medo da personagem diante da presença e toque do Coringa.

Claro, ela foi violentada por ele, haveria outra reação? Talvez. Mas era necessário algo assim? Provavelmente, não. É realmente uma imagem muito forte, principalmente depois da recapitulada que a DC fez com a personagem, trazendo leitoras femininas de todas as idades.

Mesmo que o traço do artista Rafael Albuquerque fosse mais do que incrível, a polêmica ficou por cima e a capa variante da Batgirl não será mais publicada. 

Para mim, era apenas um "disfarce assustador" que trouxe algo do passado da personagem que eu interpretei artisticamente. Mas tornou-se claro que, para outros, ela tocou em um nervo exposto. Eu respeito essas opiniões sejam elas certas ou erradas, pois geraram uma discussão que não deve ser desacreditada. Minha intenção nunca foi ferir ou incomodar ninguém pela minha arte. Por essa razão, recomendei a DC que a capa variante fosse retirada. Estou muito satisfeito que a DC Comics entendeu as minhas preocupações e não vai publicar a arte da capa em junho, como anunciado anteriormente.” disse o artista em uma declaração.

A pergunta que mais fica é: Se tornou um caso de “feministas chatas” (como muitos leitores estão se referindo as mulheres que se viram contra a arte e por sua vez trouxeram a polêmica se é certo ou errado a sua publicação) ou se realmente era uma ferida que poderia não ter sido mexida, ou até mesmo poderiam ter tomado um diferente aspecto para a capa?

Como sempre, há casos e casos e nesse, para mim, ambos estão mais do que corretos.

Nenhuma mulher quer ser recordada do que passou, seja uma heroína como a Barbara Gordon ou alguém comum. Como muita gente não sabe o que é passar por isso, talvez não entenda.

Mas por outro lado, defendendo o lado que acha desnecessário retirarem a arte da capa, a Batgirl nunca esqueceu e sempre lutou para vencer aquilo. Depois do ocorrido em A Piada Mortal, ambos já se encontraram outras vezes como em Morte em Família e ela age como alguém que não foi vencida pelo trauma, que não esqueceu, mas que está tentando seguir em frente.

Se era preferível uma capa da Batgirl com o pé na cara do Coringa? Claro que sim, mas esse não é o caso. Histórias em quadrinho podem ser ditas como “material de entretenimento infantil”, mas continuam sendo um “espelho da realidade” e a qual vivemos não é assim.

Talvez o artista, que fez um ótimo trabalho, apenas estivesse tentando mostrar a realidade, o que realmente acontece em um confronto entre uma mulher que foi abusada e o seu vilão. Foi chocante? Claro. Mas o mais chocante é ignorarmos o que ela passou e o que diversas mulheres passam.

É um assunto delicado e talvez por todo o mundo em que vivemos agora, a DC deveria ter pensado um milhão de vezes antes de publicar essa arte. Não apenas pelo novo visual da personagem que atrai garotas de quinze anos para baixo, mas também pelo fato que eram épocas distintas, onde antes histórias em quadrinho tinham como público alvo homens ou crianças.

Hoje, as mulheres detém um poder de opinião muito maior, seja ela feminista ou não.

A maioria dos leitores que eu vi reclamarem dessas atitudes foram masculinos, o que torna quase uma batalha pelos sexos, claro que teve misturas e misturas, mas resumindo era um ideal masculino e feminino (olhem que não estou dizendo feminista e machista).

Concluindo, a liberdade de expressão continua ai, mas por um lado é certo que se deve passar um “filtro”, principalmente quando é um material direcionado para um certo público.

Em minha opinião, a arte pode ter sido muito boa e acredito que deveriam publicá-la, nem que fosse apenas em uma capa alternativa da alternativa, mas é algo que mesmo que não dê para se esquecer, não deveria ser mostrado dessa forma.

"Batgirl te encara e chora aterrorizada enquanto um homem a toca. Como você se sente?” postou uma leitora no twitter.


Ela chora aterrorizada na capa, mas como é o enredo da historia da edição? Ela seguiu em frente? São perguntas que deveriam ser pesadas antes dos comentários que foram feitos.

Junno Sena

Um comentário:

  1. Não li a HQ, então talvez minha opinião não seja tão relevante, mas lendo seu post, eu acho que deveriam sim publicar essa capa. Não achei problema, a menos que tenha interpretado mal, em eles refletirem uma realidade na arte, que acontece em nosso cotidiano. O desespero da Batgirl, é perfeitamente normal em sua situação, e não vejo como poderia ter sido retratado de outra forma. Os abusos sempre continuarão se tivermos medo de tocar no assunto. Abraços!
    Desfocando Ideias

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