quarta-feira, 17 de julho de 2013

Capa vermelha

Olá, estou aqui de volta, para postar o primeiro conto do blog.
OBS: Esse é um conto meu, na verdade tem mais, mas o que esta realmente pronto é isso. Escrevo desde os meus onze/doze anos e espero que gostem.

   As pequenas luzes vermelhas eram vistas ao long por Temperance. Sua capa vermelha de quando era criança cobria mais que a metade de seu corpo. Sua visão era pela metade e o ar úmido passava por todo
o seu corpo, fazendo os calafrios estarem constantes.
   Na bolsa de pano que carregava, havia suprimentos para talvez meses e junto dele o livro de sua falecida mae. Era uma figura rubra em meio ao negro da floresta sombria, que carregava na mão esquerda um colar de ouro maciço que também era herança de sua mãe, o pingente preso a ponta era um pentagrama, o qual marcava o seu futuro, o seu passado e o seu presente.
   "Bruxa." a palavra gritava em sua mente junto do grito da multidão. Temperance agarrou o pingente e correu por sua vida. As arvores negras pareciam brilhar com a água da chuva que caíra e o brilho intenso da Lua, naquele momento era sua única companheira. Seus pés pareciam vacilar e sua respiração ofegante pedia por um descanso, ela se jogou ao chão de lama com lagrimas a escorrer e suas mãos a tremer.
   - Você precisa se mover. - o sussurro dela tomava conta do local e as pequenas estrelas no horizonte tomavam formas, a floresta era um labirinto e sem fogo e com a luz do luar era fácil se perder. Ela grunhiu e se recostou em uma arvore próxima.
   O frio intenso congelava aos seus ossos, Temperance se levantou com as pernas bambas, mas elas não cooperaram e a poucos passos, caiu, ferindo as mãos e os pés, delas pouco sangue escorria, mas era bastante para que o cheiro do liquido rubro se espalhasse. Ela não resistiu e ali ficou, com o gosto salgado das lagrimas e da lama vendo a cor do ouro de seu pingente tomar uma coloração vermelha.
   A moça de cabelos escondidos ruivos pegou o colar e pôs em seu pescoço, estava gelado como pedras de gelo, mesmo que ela o estivesse agarrando como a qual fosse sua chance de escapar.
Seu coração batia mais rápido, suas mãos pareciam suar e nenhum palavra podia sair de seus lábios. "Serei morta, queimada viva como os meus pais" Temperance disse podendo escutar os gritos de seus pais, tanto os de verdade quanto os que a adotaram com tanto afeto e agarrou a corrente que começara a carregar no peito, amaldiçoando tudo o qual realmente era.
   As lembranças das pessoas que conhecera se incendiavam em sua mente, até parar em apenas uma e dela a voz surgiu nitidamente aos seus ouvidos:
   - Deveria ter fugido mais depressa. - e do meio de uma moita não muito longe dela, uma figura negra surgiu sobressaltando a jovem. A sua volta, o cheiro forte do perfume pareceu impregnar o local. De inicio, aos olhos de uma doce garota assustada, ele era um demônio, mas o espesso cabelo negro tomou conta da cabeça do individuo e duas bolas verdes surgiram na mesma face, mostrando quem realmente era.
   - Samuel - a unica palavra a qual pronunciou saiu inaudível de seus lábios, que agora o vermelho desaparecia e o branco da palidez tomava conta.
   Temperance pôs as mãos ao chão tentando se levantar, mas suas forças pareciam ter se esvaído e o fato de seu antigo amado ter posto uma faca em seu pescoço não ajudava. A lâmina era negra e fina, tão gelada quando o pingente e como o mesmo, sua cor fora corrompida com o rubro de seu sangue. Apenas uma gota e assim seria, apenas mais um pouco de força e seria degolada.
   - Eu sempre o amei, querido - as palavras cansadas tomavam formas e delas surgiam promessas de amor. - Não me mate. Eu te amo. - palavras doces de um escritor não adiantavam naquele momento.
Samuel afundou um pouco mais a faca em sua jugular e sorriu enquanto sentava no colo dela. As lagrimas corriam descontroladamente e a dor da lamina em sua pele fazia todo seu corpo se enrijecer.
   Ele abaixou o capuz vermelho da moça e deles surgiram os cabelos ruivos e os olhos azuis, por um curto tempo ele mostrou afeto, insinuando uma cara triste, mas não cuspiu nenhuma palavra.
   O sangue corria junto as lagrimas pelo peito da moça e a faca vagarosamente fora sendo tirada e posta de lado. A lama e o sangue da jovem se uniam novamente. A qual chorava quase abraçou, pois nas historias era o que acontecia, o príncipe aparecia, mas nesta ainda havia algum vilão.
   As mãos que uma hora seguraram a faca, deslizaram pelos peitos de Temperance, juntamente ao corpo e o rosto dela. A expressão da assediada era de injuria e nojo, mas nada podia fazer, era um corpo morto, apenas com uma alma tentando gritar por ajuda.
   Logo após, suas mãos escorregaram para sua calça, a abrindo. Ela não podia olhar mais, pois mesmo que ela imaginasse ocorrer com o mesmo, não deveria ser daquela forma.
   - Também a amei. - sua voz era rouca - Mas bruxas como você... - ele fez uma pausa enquanto levantava o vestido amarelo o qual estava preto devido a lama - Merecem apenas uma coisa.
   Quando o jovem tentou forçar algo o qual não era mais de seu interesse, Temperance despertou do sono que vivia acordada e gritou. Seu grito ecoou por todas as árvores, pelas águas que haviam por perto e pela multidão. "Não" fora a unica palavra que pronunciou, mas uma que podia ser escutada pelos deuses e a Lua, sua unica companheira da fria noite que passava.
   - Cale a boca, sua... - ele parou de dizer pondo a sua mão na boca da jovem e ia tentar pegar a faca, mas Temperance a pegou antes. Os gritos dela agora pareciam mudar e tudo pareciam dizer, ela o empurrou para o lado e com a faca negra terminou com a vida do homem, o qual terminara com a sua.
O sangue espirrou e o grito cessou.
   "Não o tinha intenção" ela pensou consigo mesma a beira da loucura e o esfaqueou mais e mais. O sangue tingia seu vestido e o rosto do morto também. As marcas de faca estavam por todo o local.
   A bela ruiva de roupa vermelha apenas se levantou. Suas forças eram poucas, mas o bastante para fazer uma mera ação mecânica. Andar. A floresta parecia atrativa e o sangue secava nas bochechas, nas mãos e na faca negra que parecia ser uma extensão de seu braço que outrora fora branco, mas agora era negro da lama e vermelho do sangue de Samuel.
   Seus pés pareciam andar sobre agulhas, mesmo ainda estando com os sapatos. "É o fardo do assassinato" ela pensou consigo mesma.
   Em sua vestimenta, a capa vermelha era a única a qual não parecia suja. O vento tornava tudo melancólico, as bochechas vermelhas do sangue pareciam mais frias e logo fora levantado o capuz. "Que eu morra do frio, mas que eu não o sinta" ela pensou novamente.
   As lagrimas a muito tempo se foram, junto dos passos caminhados.
   As mesma estrelas vermelhas naquela imensidão já parecia ter se perdido completamente e quando olhou com seus dois grandes olhos para trás, pensou no ocorrido com repugnância de si mesma e se jogou ao chão rindo.
"Morreria louca" era o que poderiam dizer. "Sua loucura acarretara em sua morte", mas não o foi. Sua risada contaminava todas as árvores que se moviam com as brisas fortes. Ela se encolheu, encarou o chão, o acariciou com suas macia mão e logo depois olhos para a Lua.
   Estava deitada.
   Com lagrimas a voltar e risos a continuar.
   Então naquela noite houve um sono sem sonhos e a última coisa que vira era alguém na Lua.
- Junno Sena

Nenhum comentário:

Postar um comentário