Então eu o vi. Meus olhos estavam cansados, era cerca de
meia-noite e apenas diga-se de passagem, não era a festa que eu procurava, por
que (1) haviam dito que a banda Black
Cat tocaria, a música não é boa, mas o vocalista sim e (2) toda e qualquer
festa é melhor em sua cabeça, por que nela, todos se importam com você, todos
bebem da melhor bebida, ninguém fica bêbado e você atrai os olhos da pessoa
mais atraente.
Minha mão estava cheia do suor da latinha que eu
segurava e apertava entre meus dedos e as luzes da festa brilhavam em meu rosto
fazendo eu poder ver pouco, mas ao mesmo tempo muito e esse “muito” eram os
enormes olhos castanhos escuros e o cabelo também escuro, curto e bagunçado. É
ele, eu repetia para mim mesma. Mas ele não me via, pois isso era ser
invisível, olhar, mas nunca poder chamar a atenção de quem ama.
Dei um breve gole na latinha, era cerveja, eu odeio,
mas ainda não entendo como foi parar em minha mão.
Agora lembro, foi Sarah,
ela me dera e junto um conselho "Beba e o beije", não entendi direito
o conselho e ela também não me deixou perguntar, pois quando me virei seus
lábios já beijavam Damien, seu namorado.
O espaço do lugar era grande, as paredes, pelo menos
a que me encostava, era branca e refletia as cores do arco-íris vindas da
lanterna e as pessoas dançavam no meio do salão. Fui andando até o pequeno bar
e me sentei. Ainda o vigiava, ele estava do outro lado do salão e mesmo com a
confusão de escuridão e luzes, eu podia vê-lo.
Dei outro gole e disse:
Sabe o que é interessante? Depois do primeiro gole, a
cerveja deixa de ter um gosto "que droga amarga" para um
"amargo", não que você comece a gostar dela, você apenas, começa a se
habituar ao seu cheiro e gosto estranho de cevada.
- Disse algo? - perguntou o bar man, naquele momento
as linhas de seu rosto nem eram visíveis para mim, pois eu apenas pensava em um
cara. Balancei a cabeça negativamente –
Deseja algo? – ele insistiu e assim como resposta levantei a latinha, os meus dedos
ainda molhados apertando-a.
Meus sentidos iam se esvaindo. Talvez eu não seja para
bebida, disse a mim mesma.
Mais um gole e assim o vi novamente. Ele sorria, se
encontrava com talvez mais três garotos, era belo e eu... Prefiro não comentar
sobre mim. Meu cabelo escuro e muito enrolado, meus olhos muito claros e minha
pele muito branca eram detalhes que me deixavam apreensiva toda a manha ao ir
para o colégio.
Me virei para o bar man e comecei a olhá-lo e pensei o que
ainda fazia ali. Ele também me encarava.
- Conheço uma pessoa que adoraria você.
- Eu te conheço? - perguntei fria e gélida
- Não, mas... - ele se curvou distintamente e disse -
Conheço seu segredo e o da sua irmã e o da cerveja também.
Levantei a lata de cerveja e a encarei tentando ver o
que ele queria dizer com o segredo da cerveja, eu o olhei.
- Acho que já vou, tentar... - Beijar, a palavra
ficou em minha mente, navegando e percebi que na verdade, nunca sentira vontade
de fazer algo como aquilo, pelo menos não com essa vontade de beijar qualquer
um, na verdade, um em especial, mas não o bar man ou o jovem sentado a duas
cadeiras ao meu lado.
- O que?
- Nada. A cerveja está falando por mim. Vou pro carro
e... - levantei apressada, mas então senti o toque quente no meu braço, me
puxando.
- De certa forma é a cerveja, mas existe algo mais.
Vamos fazer o seguinte, eu te apresento o meu amigo e te ajudo com isso, tudo
bem?
Sabe quando você esta prestes a fazer algo de errado
e pensa em algum tipo de ditado ao qual escutava quando era criança. Desta vez
pude escutar "Não saia com estranhos", mas então é como se minha mãe
interior houvesse sido anulada, além de qualquer tipo de pudor em minha
personalidade fazendo me dizer:
- Por que não?
Ele se retirou de cima do balcão e deu a volta, me
encontrando e estendendo a mão, paciente e calmo. Agora pude finalmente ver,
seus olhos eram negros como os dele. Dele quem? Eu me perguntei. Alguma coisa
estava errada, eu me esqueci de algo. Ou de alguém? Agarrei sua mão. É ele, eu
acho. Pelo menos são os mesmos olhos negros e cabelo escuro. Ou não? Eu não
sei. Me levantei do banco e sorri.
Tocava uma música. Sim, era o DJ que contrataram.
Claro, eu estava lá pela banda. Mas que banda? E que vocalista?
Era como se minhas memórias fossem se esvaindo. Ou
pelo menos era o lugar. "Flor Miosótis" era o seu nome.
- Sabe o que dizem sobre a flor miosótis? - ela
escutou a voz do bar man se elevando, pois passavam ao lado de uma das caixas de
som. Eu fiz sinal de negação - Que quando você dá ao seu amor verdadeiro, ele
nunca esquece de você. Mas que se usá-la indevidamente, todos esquecem de você.
Até você mesmo esquece de sua identidade.
- Como assim? - eu perguntei, meus dedos se
contraíram com a ideia de ser invisível de verdade e soltaram a cerveja,
calmamente, mal pude escutar o som metálico se espatifando no chão.
- Em alguns lugares... - o som foi indo embora,
agora, entravamos em um corredor e ao fim dele havia uma escada subindo para o
andar de quem quer que seja que eu ia conhecer - Essa flor tem o apelido de
"Não me esqueças" e alguns dizem que se usá-la do modo errado, dando
a pessoa errada, talvez, não é apenas ela que se esquece de você, mas todos a
sua volta. A base ou se preferir ideia principal desta magia é de que você é
esquecível, mas não insubstituível ou irrelevante, então não deve forçar que
as pessoas nunca te esqueçam.
- Magia? - eu perguntei quase rindo da palavra - A
vida não é um romance de Harry Potter ou Nárnia.
- Para alguns. - as palavras eram calmas e doces e
fizeram um frio percorrer a minha espinha.
O corredor acabava com uma escada, a mesma em si era
pequena, mas escura e seus degraus, de madeira. Quando começamos a subi-la,
nossos passos ecoavam, sendo assim o único som audível naquele local. Música,
pensei. Havia música. Eu acho.
- Desde quando é uma praticante? - a voz dele ecoou
naqueles degraus fazendo ela se sobressaltar, sua mão ainda agarrava a sua -
Desculpe, aqui está uma pouco escuro - uma luz se acendeu a frente do bar man,
parecia uma lanterna.
- De que?
- Magia. Ou... Ressonância de almas. Ou... Como você
chama? - ele perguntou se virando e me olhando nos olhos - Representação de
alma? Aura espiritual? Prolongamento de alma? Transformação – fez uma pausa
ainda a encarando e disse triunfante - Transmutação, agora acertei, certo?
Deve estar drogado, pensei. Vou concordar com a
cabeça e continuar andando por essa escada, lá encima deve ter uma saída. E foi
o que fiz, o problema é que talvez tenha sido a escolha errada.
- Transmutação, ele repetiu para si mesmo. Apenas
famílias antigas usam este termo. – ele virou para a parece e a encarou,
continuando a nossa marcha até que então, a luz a frente do mesmo se apagou e
outra mais forte, refletindo por toda a escadaria, era uma porta sendo aberta, havíamos chego ao fim do "túnel", por falta de palavras.
Aquele segundo andar era enorme, havia uma mesa de
sinuca no centro, sofás e poltronas de couro, era bem iluminado e o cheiro de
salgadinhos pestinhava o local. As paredes eram da cor de vinho e as janelas
estavam abertas, a noite invadia a sala. Na mesma se via a grande Lua junto de
pequenas estrelas. Lua? Lua cheia?, me perguntei, não me recordava que hoje era
dia de lua cheia.
- Pelo seu cheiro soube que era de uma família
antiga. O bar man parecia concluir os pensamentos
Assenti novamente e quando soltou minha mão pude
perceber um pouco mais da sala. Ele se sentou e pude ver os personagens, uma
jovem, talvez da minha idade, sentada em uma poltrona abaixo da janela sendo
banhada pelo brilho da lua e mais um homem deitado na mesa de sinuca.
- Juliano, trouxe uma praticante. Pelo cheiro, é de
família antiga. - ele cruzou as pernas, se sentindo em casa e eu os olhava
ainda perto da porta.
Escutei um "snif snif" vindo do homem. Ele
havia fungado?
- Não tão antiga. Tem aquela. - a voz era grossa e
distinta
- Ela é intocável e nem sabe quem é. - o outro disse
se lamentando.
- Ainda - agora era a jovem banhada pela a Lua que
dissera, quase em sussurro Seus olhos sobre aquela luz eram de um negro
prateado e seus olhos azuis.
O deitado na mesa de sinuca se levantou e me olhou.
Naquele momento, quis a minha... Irmã? Sim, ela. A quis perto de mim, ela
sempre sabia o que eu deveria fazer e talvez com sua presença, aqueles olhares
não pareceriam tão indiscretos, quase como se me despissem e violassem.
- Tem algo errado nela.
- Não me esqueças. Não me esqueças. Me faça seu. E
nunca me esqueças para assim, eu sempre...
- Te lembrar. - ele completou, sorrindo - Deu errado
- Eu sei. Então pensei que... Já que ela não se
lembra e assim ninguém se lembrara...
- Quem se importaria com a sua... Essência -
pareciam irmãos, as vozes eram muito parecidas e se completavam naquela sala.
- Por que vocês simplesmente não se deixam morrer? -
a voz da jovem veio novamente dessa vez se virando e me encarando. “Snif snif”,
escutei novamente e dessa vez, eu vi, mas era ela quem cheirava o ar.
- Por que é chato, irmã. É chato. - os dois disseram
em unissomo.
Os grandes olhos azuis após a sua, por assim dizer,
fungada se viraram quase sem ou talvez sem nenhum tipo de interesse sobre mim.
- Eu não entendo. – eu pude dizer finalmente dando um
passo para trás. - Na verdade, eu não me lembro direito. Que lugar é esse? Você
disse, sobre... Me ajudar? Eu não lembro. Minha cabeça, ela... - pus as mãos em
minha cabeça, meus pensamentos eram vagos - Meu nome é Emanuele, mas me chamam
de Ema. Tenho dezessete e... - gemi por causa de outra pontada e assim comecei
a falar coisas sem nexo e essas eram partes pequenas de minha vida, a parte
estranha era que a cada momento que eu dizia um pequeno evento de minha vida
era como se fosse apagado de minha memoria. Eu estava sendo apagada. Aos
poucos. Aos... Pou... O que eu dizia? Eu... Sou... E...
- É melhor ir rápido - pude escutar a garota dizendo.
Eu a conheço. Quem é ela?
- Seremos. - disse o que estava sobre a mesa daquele
jogo, o qual se usa bolas e um taco, se levantou completamente e em sua mão
havia algo,... Azul? Eu não sei. Brilhava de diversas formas, era quase...
Celestial.
O outro levantou do sofá de couro marrom com um
objeto de mesma cor. Eram facas, eu acho. Eu não lembro, na verdade, eu não
sei, eu só... Talvez, eu tenha morrido, não sei, preciso de ajuda. É como se...
Então eu o vi. Meus olhos estavam cansados, era cerca
de meia-noite e apenas diga-se de passagem, não era a festa que eu procurava,
por que (1) haviam dito que a banda Black Cat tocaria, a
música não é boa, mas o vocalista, sim e (2) toda e qualquer festa é melhor em
sua cabeça, por que nela, todos se importam com você, todos bebem da melhor
bebida, ninguém fica bêbado e você atrai os olhos da pessoa mais atraente...
A jovem de cabelos negros e enrolados estava fadada a
percorrer aquele círculo, suas únicas memórias não apagadas, suas únicas
memórias salvas em sua essência ao ser morta.
- Ela não era praticante - disse um dos jovens
- Não era.
- Eu senti seu cheiro e sabia disso. - disse a garota
vendo os irmãos segurarem algum tipo de esfera luminosa, cada um uma metade,
era da jovem, isso ela sabia. Se virou novamente, olhando a Lua. Bruxas de
Tessália, pensou, bruxas... Onde elas estão? Minhas irmãs, não de sangue, mas
de espirito São melhores que esses dois, são.., ela parou seu pensamento, não
queria continuar se punindo com essas memórias e assim fechou os olhos
ignorando o cheiro de sangue somado à enxofre ou algo similar, algo que nunca
fora descoberto em nenhum laboratório, que esses conhecedores de magia chamam
de "essência", mas existe muito mais por trás dela.
Espero que tenham gostado. Mas então, deixe eu explicar, esse é como um prólogo para algo que estou planejando fazer e gostaria da opinião de vocês. Não tenho muito a dizer sobre, acho que só perguntando mesmo (haha).
-Portico
Continue! Meu Deus, continue!!!!!!!! *0*
ResponderExcluirkkkkk obrigado e volte sempre :D
ExcluirOi, tudo bom?
ResponderExcluirVi seu recadinho no skoob e vim te conhecer!
Não sei porque mas eu amo textos que tem "Sarah's" como personagens hahaa
Continue a escrever, ficou muito bom!
Tem promoção nova, participa!
Beijão
Endless Poem
Oi. Muito Obrigado por ter vindo. E nossa, também curto o nome Sarah kkkkk Vou sim continuar, o incentivo de vocês me dá forças kkkkk
ExcluirVolte sempre