Já deveria ser cerca de sete horas da manhã
e Jennifer não pensava em sair da cama assim tão cedo, mas tinha que fazer o
mesmo. O ar frio e úmido invadia as cobertas. A mesma abriu um dos olhos,
recebendo luz até demais de sua janela, fechou-o rapidamente.
Abaixo das cobertas, não se via muito da
jovem, era um amontoado de cabelo escuro, se escondendo da claridade da manhã.
Você tem que levantar, meu bem, ela pensou como se falasse consigo mesma.
- Não. – ela murmurou fechando mais ainda os
olhos, mas sempre que ela dizia “não” era como se a sua própria decência a
levantasse, seu subconsciente não a deixava desistir. Pelo menos não depois de
tanto esforço.
Jennifer usava uma calça de moletom, com
meias grossas e uma leve blusa branca sobre o corpo. O frio, depois de tanto
tempo, apenas roçava em sua pele. A mesma nem se importava ou coisa do gênero.
Ainda com os olhos meio fechados, começou a se arrastar saindo de seu quarto até o banheiro no fim do
corredor. Antes de chegar ao mesmo parou em frente a uma porta antes da do
banheiro e olhou pela fresta da porta, podendo ver sua mãe, jogada na cama.
Por que ela pode e eu não? Ela pensou
calmamente e depois novamente aquela pequena decência sua respondeu: Anda logo.
E novamente começou sua marcha arrastada.
No banheiro, viu seu reflexo no espelho e
quis se internar, estava com cara de doente, na verdade, de uma morta-viva de
filme de terror antigo. Os cabelos castanhos escuros sobre o rosto, mostrando
apenas um dos olhos também escuros, com o rosto inchado com a sua cor de mel,
bronzeada.
Pegou seus cabelos longos e o jogou para
trás e em seguida tacou a água gelada da pia em seu rosto, tendo como consequência o claro despertar de todo o seu corpo. Levantou o seu rosto,
caçando a toalha e a passando no rosto.
Pegou uma presilha de cabelo e amarrou no
mesmo calmamente, fazendo um rabo de cavalo. Se olhou novamente no espelho e
finalmente percebeu que algo faltava. Pós a mão esquerda no rosto e percebeu que
estava sem os óculos. Voltou ao seu quarto e os pegou, os aros grandes e
pretos.
- Bem melhor – sussurrou.
O seu quarto era pequeno, talvez por todos
os livros a sua volta e a estante que guardava uma pequena metade, com uma cama
de solteiro e um guarda-roupa simples, ao lado da cama, onde estava o seu
óculos, havia uma mesa de cabeceira Pegou o seu celular da mesma e viu a hora,
marcavam exatamente sete horas e sete minutos. Alguém pensando em você, pensou
Jennifer, ou não.
Saiu do quarto e tentando fazer barulho para
acordar sua mãe desceu a escada o mais rápido e saltitante possível. Chegou a
cozinha, no primeiro andar e pôs água para ferver e em seguida ligou a
televisão vendo os noticiários.
- Você poderia ser menos barulhenta –
escutou sua mãe gritando com a voz cansada. Ela sorriu e levantou os óculos,
ajustando para seus olhos.
As notícias eram as mesmas, morte,
assassinato, acidentes e pessoas maravilhosas e famosas fazendo coisas
igualmente maravilhosas. Ela perdeu o interesse rapidamente e subiu para o seu
quarto. Na porta de seu guarda-roupa havia um espelho que não cobria todo o
corpo, mas ajudava a escolher a roupa.
Pegou uma calça jeans preta e uma blusa de
uma banda qualquer e depois um suéter listrado, rosa e preto. Olhou a
combinação e odiou totalmente.
- Dane-se e junto que dane-se o banho. Está
frio – ela riu consigo mesma e escutou a porta se abrindo atrás de si.
- Eu vou fazer o café, não se preocupe.
Jennifer olhou pelo espelho, o olhar de sua
mãe era cansado, assim como o seu há alguns minutos atrás. Uma morta viva de um
filme de terror. Ela sorriu para a mãe.
- Hoje é seu grande dia, certo, querida? –
ela sorriu, tentou, por que o sono parecia paralisar seu rosto. Jennifer
assentiu e se olhou no espelho. Ela estava horrível, pelo menos, para ela. Em
sua percepção, seu rosto era muito quadrado, seus lábios meio grandes demais,
seu nariz estranho, seu cabelo era liso, mas bagunçado demais e seus olhos,
escuros demais. Para ela, todas suas características eram exageradas demais,
fazendo com que a própria se tornasse estranha demais, mas na verdade, ela
chamava mais atenção do que percebia.
- Sim, é.
- Vou deixá-la se arrumar e descer para
fazer o café. – viu sua mãe passar as mãos no cabelo suavemente, os abaixando e
deixando seu belo rosto moreno e suave aparecer no espelho. Isso não ajuda, ela
pensou, de morta viva à bela recém acordada. Sua mãe sumiu calmamente de sua
frente e assim pensou: All Star, como sempre, sorriu e tratou de se despir,
mesmo que fosse quase um desafio em meio ao ar úmido.
Suspirou ao ver sua imagem no espelho de
suéter e calça preta, além de seu all star de cano longo, também de cor preta.
Se virou calmamente para a mesa de cabeceira e viu a corrente fina de ouro
repousar sobre a mesma. Foi andando até ela e a agarrou.
- Pai... – disse quase como uma lástima se
recordando do mesmo. A corrente tinha um pequeno pingente de um pentagrama, o
pôs e o repousou por debaixo da roupa. Estava pronta, pelo menos metade. Foi
andando novamente até o banheiro, retirou a presilha de seu cabelo e começou a
pentear o mesmo. Seu cabelo não era muito longo, ia pelo menos até um pouco
abaixo da nuca, tinha uma leve ondulação e ainda usava uma franja de lado.
Depois de talvez, umas poucas escovadas, o pôs novamente com um rabo de cabalo, mas desta vez trabalhando um pouco mais
dele, fazendo uma pequena mecha surgir em cada lado. Escovou os dentes e sem se
importar com algum tipo de maquiagem especial, desceu as escadas.
A televisão ainda emitia o som de algum tipo
de notícia local, mas a ignorou indo para a cozinha. Na mesma, sua mãe enchia
duas canecas de café, das mesmas o vapor saia calmamente, Jennifer, já podia
sentir não apenas o cheiro, mas o calor que poderia lhe proporcionar.
Sua mãe, também prendera o cabelo, seus
olhos eram escuros como o dela e seu cabelo negro, sempre dissera que Jenny puxara o cabelo do lado do seu pai da família. As linhas de seu rosto eram
suaves e mesmo tendo trinta e sete anos, ainda tinha um rosto e corpo mais
jovens do que a realidade, seu nome era Michele.
- Então... – disse Michele agarrando a sua
xícara e bebendo calmamente, desfrutando do sabor.
- Eu vou para a colégio, finalmente pegar o
meu diploma, depois vou para a casa de minhas tias. – ela sorriu.
- Ainda não entendo por que não foi na
formatura – os olhos negros de sua mãe alternavam de encarar seu rosto para a
mão de sua filha tateando a mesa devagar até chegar a caneca verde e dar o
primeiro gole.
- Por que é contra os meus princípios
Garotas com belos vestidos e rapazes de smoking que provavelmente nunca mais
irão se ver.
- Por isso que fazem o baile e tudo mais,
por que nunca mais se verão. – ela sorriu tristonha.
- Não tenho ninguém que eu queira ver pela
última vez. – ela pensou na sala do ensino médio que passara três anos e nos
amigos que havia ganhado e perdido e assim por fim na sua única amiga de
verdade que encontrara, Clara e de qualquer forma, se encontrariam dentro de
horas, talvez, na mesma faculdade. – E também não tinha com quem ir para a
formatura.
Michele sorriu, um sorriso fraco e triste. Se
lembrava que no colégio era uma das mais populares e talvez aquilo tivesse
destruído muitas amizades, mas feitas diversas outras e achado a pessoa certa,
o pai de Jennifer, que descansava agora em paz.
- Não se preocupe, tenho dezoito anos e vou
para faculdade. Encontrarei pessoas e finalmente sairei dessa cidadezinha. –
ela riu se virando para ir a sala. “Finalmente a policia encontrou e prendeu o
estuprador da cidade...” escutou atentamente, uma voz viril dizer estar
palavras, mas depois ignorou.
Pelo menos, minha mãe ficara bem quando eu
for, Jenny pensou triste.
- Aqui não é tão ruim.
- Quando se encontra um emprego estável como
a senhora fez. Todos aqui precisam de você.
Michele era médica da pequena cidade, a
mesma fria e triste na maioria das ocasiões Para Jennifer, aquela cidade já
estava formada, na verdade poderiam chamá-la de vila, todos se conheciam e
haviam todos de importância isto é, açougueiro, médico, dentista, não havia mais
vaga para nada e quando alguém tentava surgir a mais, era um fato que sumiria
em poucos dias.
- Horas? – escutou a voz a mãe vindo logo
atrás dela para a sala.
- Devem ser sete e quinze.
- Você vai agora?
Ela nada disse, apenas assentiu triste,
ambas sabiam que ela voltaria no mesmo dia, era uma visita, mas calmamente
aquela visita se tornaria uma estadia por tempo indeterminado, ou talvez,
sempre. Ambas sorriram e Jennifer sentiu aquele incômodo no estômago, ela
chamava de pressentimento e sempre estava certo, a parte ruim era que na
maioria das vezes, eram coisas ruins.
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